Obrigada
Pedro Nuno Santos (PNS)! E eu que pensava, pelos vistos muito erradamente, que
o PS estava adormecido. Bastou um único artigo teu e … Ops! Já vamos em cinco
artigos – 4 de uma suposta resposta – ao teu texto de 31 de Janeiro, no
Público. Mais adiante explicarei porque é que constituem na minha opinião uma
não resposta. Mas como diria o Sr. de LaPalisse, comecemos pelo princípio.
Não posso
deixar de sublinhar, porque nem todos os autores têm para mim ou para o País a
mesma importância relativa e, sobretudo, porque no plano pessoal nem todos me
merecem a mesma consideração, algumas referências que me chocaram e que não
constituem, nem de perto nem de longe, uma resposta ao que PNS achou por bem
defender e que foi bom tê-lo feito.
Confesso que
sempre achei que a força e a riqueza do PS, e o que me levou há mais de 40 anos
a aderir ao único partido em que tenho vivido como a minha casa política, foi a
sua enorme diversidade e a convivência entre as diferentes tendências, por
vezes dura e difícil, mas sempre livre e saudável. Nunca entendi que no PS
existisse apenas uma esquerda, ou que a “minha” esquerda representasse a
“nossa” esquerda. Não, não e não. Existe a minha, a tua, a dele/a e todas, sim
todas, em conjunto formam a “nossa” esquerda, a nossa casa política, o Partido
Socialista. Nem tão pouco aceito que na “nossa” esquerda, património de todas e
todos os militantes do PS, se advogue que uns são uns pobres coitados que do
mundo e da história têm uma visão simplista, dividida entre os bons e os maus e
que nada percebem do que se passa à sua volta, descritos, aliás, jocosa e
ironicamente como os “verdadeiros” socialistas. Acho que é exactamente este o
tipo de argumentação que não se deve ter.
Este sim divisionista, e admitamos com tristeza um bocado primário. São
pessoas que se apoiam em lados e não percebem como isso é irrelevante. Como os
tempos são outros. Passam ao lado do essencial e com isso empobrecem o partido.
Pelos vistos deve satisfazê-los. Triste
compensação! E se eu, que vou fazer 77 anos, já estou um bocado farta da
demagogia que alguns utilizam em doses cavalares quando dá jeito, mesmo que a
despropósito, não sei como depois ainda se admiram de os jovens não se sentirem
particularmente atraídos pelo debate de ideias. A razão é simples: é que esse
tipo de argumentário não representa nenhum debate de ideias. Apenas um certo azedume e a incapacidade em
aceitar que cada um/a de nós, com as nossas diferenças, mas com o amor comum ao
Partido Socialista, construímos em conjunto a “nossa” esquerda. Que isto não
seja percebido por colunistas, comentaristas e outros, posso entender. Por
quadros importantes do partido, acho inquietante.
Posto isto,
vamos ao que, na minha opinião, interessa: factos e consequências desses factos
nas eleições presidenciais:
Facto 1 –
Mais de seis meses antes de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) anunciar oficialmente
se era ou não candidato à Presidência da República, o Primeiro Ministro de um
governo socialista – António Costa -
numa sessão na Auto-Europa, “lança inopinadamente” a sua candidatura,
sem qualquer auscultação prévia ao PS. Segundo alguns comentadores da nossa
praça: “num impulso”. Destes direi que não o conhecem. António Costa é tudo menos um impulsivo. É um
homem muito inteligente, capaz, hábil político, perito em estabelecer pontes e
um pragmático gelado, pouco dado a estados de alma. Fá-lo porque entendeu que era a melhor e a
mais estável solução para o governo de Portugal.
Facto 2 – Uns
meses depois, a Comissão Política Nacional do PS, aprovou por maioria a posição
do Secretário-Geral que consistia em dar liberdade de voto aos militantes, uma
vez que o PS não apresentaria nenhum candidato/a. Obviamente que a solução
dificilmente poderia ser outra atenta a posição em que ficaria o
Secretário-Geral e Primeiro Ministro. O PS com uma candidatura e o
Secretário-Geral com outra?! Impossível.
Facto 3 – Ana
Gomes (AG) lança a sua candidatura sem o apoio do PS. Convém restabelecer os
exactos parâmetros para aqueles que se comprazem em diminuir os resultados da
candidatura de AG – 13% - em comparação
com o resultado obtido há 5 anos por Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, em
conjunto cerca de 26%, esquecendo que Sampaio da Nóvoa foi muito “ajudado”, em
militância e não só, pelo PS, o que não aconteceu com AG.
Facto 4 –
Acresce que há 5 anos o mesmo Secretário-Geral e Primeiro Ministro de agora
manteve-se à margem da candidatura de
MRS não lhe tendo manifestado previamente a sua satisfação em vê-lo ganhar a
Presidência da Republica, como aconteceu em
2020, uma vez que o PS tinha um candidato oficioso – Sampaio da Nóvoa.
Um “apoio” destes, mesmo subliminar faz toda a diferença
Facto 5 – Há
cinco anos, que eu me lembre, nenhuma personalidade, alto quadro do partido
manifestou o seu apoio à candidatura de MRS como aconteceu nesta eleição com
uma lista de notáveis que só não fizeram parte de uma Comissão de Honra porque
esta não existiu. Não é possível achar que é honesto fazer comparações entre os
dois tempos.
Facto 6 – Se
não tivesse existido a candidatura de AG, o candidato messiânico (no entender
do próprio) teria ficado em segundo lugar. Para alguns isso não foi muito
importante. Não querem perceber que a tão apetecida estabilidade só pode
acontecer numa sociedade verdadeiramente democrática, inclusiva e pacificadora,
onde os sobressaltos fascizantes e os assomos anti-democráticos sejam
rechaçados pelo povo. Dir-me-ão que o povo votou maioritariamente em Marcelo. É
verdade, mas sem Ana Gomes depois da vitória de Marcelo e da derrota da
extrema-esquerda nada sobraria a não ser a dita candidatura anti-sistema.
Aliás, alguém me pode explicar como é que se é anti-sistema, sendo um deputado
pago pelo erário público e com um partido perfeitamente legalizado pelo
tribunal constitucional, aliado à sede de cavalgar o centro do sistema e ser
governo?
Facto 7 - AG
é uma guerreira. O seu perfil é muito mais adequado a um membro do governo ou a
um parlamentar. Apresentou-se sem rede, sem qualquer apoio de um dos grandes
partidos. Decidiu ir à luta sozinha, sabendo à partida que nem sequer iria
ganhar, mas decidindo que enquanto cidadã o socialismo democrático devia marcar
presença. Gabe-se-lhe a coragem e a determinação. Claro que AG cometeu erros,
erros aliás dispensáveis e perniciosos para a sua campanha como hostilizar
gratuitamente o Primeiro-Ministro e os dirigentes do PS, não querendo perceber
que ao hostilizá-los, estava a hostilizar também os militantes que se reveem
nos seus dirigentes. Aliás as/os eleitores na sua maioria gosta pouco de campanhas
agressivas. Algumas vozes dos “suspeitos do costume” realçaram o facto de MRS
ter sido o único candidato que não atacou o governo. Pudera! O objectivo de
Marcelo era não só ganhar como ganhar com o maior número de votos possíveis e
porventura obter um resultado perto do de Mário Soares. Sem os votos dos
socialistas era uma missão impossível.
À guiza de
conclusão: conheço há muitos anos MRS. Possivelmente sou dos/das socialistas
quem o conhece há mais tempo. Gosto sinceramente dele como pessoa. Apreciei o
seu mandato e a forma como se relacionou com o governo. Pouco lhe apontaria de
negativo e gosto de pensar que tem contribuído para a tal sociedade
pacificadora e inclusiva. Mas o meu projecto de sociedade é diferente. Às vezes
nem é apenas o estabelecimento distinto de prioridades ou dos objectivos a
atingir. São os métodos escolhidos e os caminhos para os alcançar. Sou decididamente de esquerda e enquanto cá
andar e tiver alento nunca desistirei de lutar, em cada eleição, em cada canto
do meu País, para a vitória da minha/nossa esquerda.
Wanda
Guimarães
Ex-deputada e
membro da Comissão Política Nacional do PS
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